26 Apr 2011

Este post é de 2004 - mas é isto, que querem?

Espaço de sonho


No dia 25 de Abril de 1974 eu ainda não tinha nascido. O meu Abril, aquele que me formou, foi criado pelos meus pais, pelos valores que me transmitiram, pela festa que faziam sempre que se comemorava o Dia da
Liberdade.
Lembro, com demasiada saudade, os ramos de cravos vermelhos com que a minha mãe enchia a casa, estivéssemos ou não, em Abril. Lembro quando me mostraram a voz quente do Fernando Tordo a cantar a poesia de José Carlos Ary dos Santos: “O povo não é livre em águas mornas / Não se abre a Liberdade com gazuas”. Lembro-me de ouvir, com eles, vezes sem conta, Zeca Afonso, exemplo máximo dos trovadores de Abril. Talvez por isso, ainda hoje me sinta um “Filho da Madrugada”.
O 25 de Abril é, para mim, um espaço emocional, porque não o vivi. Um espaço de sonho, de inocência, de acreditar que tudo é possível. O primeiro momento, o momento fundador, de todos os ideais em que acredito. Liberdade. Democracia. Solidariedade. Paz.
Neste dia, 25 de Abril de 2004, quero dizer obrigado e prestar homenagem aos militares que souberam dizer basta. E aos meus pais por terem criado, para mim que só nasci depois, esse espaço de sonho.

15 Apr 2011

Poderosos, estúpidos e essenciais

Os mercados são em simultâneo poderosos, estúpidos e essenciais. Poderosos porque têm o poder de fazer com que aconteça uma coisa em que acreditam num determinado momento (as tais self-fulfilling prophecy). Estúpidos porque muitas vezes ligeiros e limitados na informação que buscam sobre uma determinada situação. Essenciais porque são uma ferramenta insubstituível no aumento da prosperidade das sociedades.

Isto é uma combinação perigosa, como temos vindo a descobrir. E não vejo uma solução para este problema que não implique mais pobreza e menos crescimento.

13 Apr 2011

Ler

O belo exemplo de Portugal aplicado à discussão orçamental nos EUA., no blog Americam Politics, da The Economist.

LAST month Portugal's parliament voted against a package of austerity measures that would have been necessary to avoid a European Union bail-out. Immediately, the country's costs of borrowing went through the roof. Last Wednesday, Portugal auctioned €1 billion of 12-month bonds at a yield of 5.902%; at the previous auction of €1 billion on March 16th, the yield was 4.331%. Now Portugal will end up having to adopt basically the same package of austerity measures, or something worse, as a condition to receive the European Union bail-out. So their parliament's rejection of the austerity measures cost Portuguese taxpayers €15.71m on that bond issue alone, in return for which they got exactly nothing.

Elogio do confronto

Tendemos a ver a política de uma forma simplista, reagindo mal ao confronto que esta necessariamente gera. Os apelos ao consenso - perante uma situação que é muito difícil - são bem recebidos porque esquecem que a democracia se faz de combate. Idealmente esse combate pelo voto dos cidadãos seria feito a um nível de ideias - como vamos sair desta situação, que prioridades temos para alocar recursos escassos, que tipo de sociedade queremos ser - mas, como sabemos, esse mundo não existe.

Renegar a democracia porque o combate político é demasiadas vezes feito de ataques pessoais e manipulações da verdade, equivale a deitar fora o bebé com a água do banho. Este é mesmo "o pior de todos os sistemas, com excepção de todos os outros". A teoria dos jogos explica bem porque é que uma solução que não optimiza a utilidade de todos os envolvidos é muitas vezes a escolha racional. É que jogar com regras diferentes dos adversários é o caminho mais certo para a derrota.

11 Apr 2011

Nice going, Portugal

O problema das contas públicas dos países da periferia tem anos e não era uma questão até meados do ano passado. Claro que é sempre desejável (agora obrigatório) que a responsabilidade fiscal faça parte das opções políticas que temos de fazer. E que há muito a fazer em termos de consolidação das nossas contas públicas. Mas, lamento dizer, até porque se fosse verdade era mais fácil de resolver, o nosso problema vai um bocado mais longe do que os tão famosos consumos intermédios.

Uma das principais razões da nossa capitulação tem a ver com a alteração sentida na UE relativamente a uma solidariedade que os mercados presumiam como inatacável. Isto é facilmente demonstrável pelo facto de os spreads das diferentes dívidas públicas da Zona Euro terem sido quase idênticos, apesar de situações bem diferentes nos diversos países, até ao início da crise financeira global. O papel fundamental da UE nesta evolução é, aliás, reforçado pela correlação elevada que os spreads dos países periféricos demonstraram no último ano, muito mais sensíveis aos comentários de Berlim e de Paris do que à evolução dos países afectados.

Depois foi só juntar irresponsabilidade no pior momento possível. Reprovar um novo pacote de medidas de austeridade (que tinha um consenso total junto de quem podia evitar que tivéssemos de recorrer a um pedido de ajuda) numa altura em que Espanha começou a descolar da restante periferia em termos de risco de crédito, é de uma estupidez alarmante. Enquanto Espanha tinha também uma percepção de risco elevada, o risco de deixar cair Portugal era demasiado alto, dado o mais que provável efeito de contágio. Desaparecendo essa muleta e juntando a óbvia percepção, pelo menos para o exterior, de que alguns em Portugal preferiram provocar uma crise política em vez de se continuar um trabalho exigente e difícil de controlo das contas públicas, a ajuda externa confirmou-se definitivamente como uma inevitabilidade. Resta-nos negociar um pacote de ajuda no meio dos excessos inevitáveis de uma campanha eleitoral e com interlocutores nacionais sem legitimidade. Nice going, Portugal.

8 Apr 2011

Despedir

Quando os "técnicos" do BCE, UE, FMI, whatever, chegarem a Portugal são capazes de ter uma surpresa desagradável. Excluindo uma saída do Estado de sectores vitais como a saúde e educação (que estão fora de discussão, como para mim é óbvio), o atingir de uma redução significativa da despesa do Estado só se fará através de despedimentos na função pública, cortando gorduras acumuladas ao longo de décadas. O mito dos consumos intermédios desfaz-se rapidamente quando consideramos o seu reduzido peso na despesa pública total.

O preço a pagar será, claro, um aumento significativo da taxa de desemprego - nos próximos anos parece difícil que o sector privado tenha grande capacidade de contratar. Como é que isto se faz em democracia, é uma coisa que ainda ninguém me conseguiu explicar convenientemente.

É mais ou menos isto (III)

É mais ou menos isto (II)

7 Apr 2011

É mais ou menos isto



Ou, como diria o outro, "god is a concept by which we measure our pain".

Ah, a nostalgia

Ora então, vivo mais uma vez num país intervencionado. Bom, bom, era poder passar por mais esta ajuda externa no mesmo estado de espírito em que estava nas últimas duas: em busca permanente de qual seria a próxima brincadeira.

6 Apr 2011

Perder

It's like forgetting the words to your favorite song
You can't believe it, you were always singing along
It was so easy and the words so sweet
You can't remeber, you try to feel the beat


Eet, Regina Specktor

Agir localmente

Há, perto da escola da minha filha, um parque infantil que tem uma área vedada para jogos. Fizeram obras recentemente, nada de especial, pintaram umas marcas de basket no chão e puseram umas tabelas. Desde então, não há vez que passe por lá e não estejam um bando de putos (e mesmo alguns menos putos) a jogar, o que não acontecia porque o espaço estava muito degradado. Simples, provavelmente barato e eficaz. É bom ver estas coisas, no meio da desgraça em que estamos metidos.

1 Apr 2011

Mentira e verdade

A acusação de mentir como arma principal de ataque a adversários políticos não é apenas uma menorização da política - porque acaba com qualquer hipótese de debate de ideias sobre para onde queremos ir e qual o caminho que devemos percorrer. É também perigosa, porque dá força aos argumentos populistas (é tudo a mesma cambada, pá!) e estúpida, dado que não é difícil, em especial em longos períodos de governação (às vezes em curtos), apanhar contradições no discurso de qualquer político, que possam ser classificadas como mentira.

A insistência em conceitos de concretização mais do que duvidosa, como a "verdade" que aparentemente se deseja única e incontestada, como se tal fosse possível, é apenas a outra face da mesma estratégia.

Mais uns sem-noção

E continuamos assim, divertidos. Mais surreal que provocar uma crise política nesta conjuntura, é achar que um governo de gestão (obviamente enfraquecido) deve negociar um pacote de ajuda internacional... Com que contrapartidas? As do PEC4, cuja rejeição na AR levou à queda do governo?