22 Jul 2011

Tempus fugit, no entanto

Morgan Stanley strategists led by Hans Redeker, head of foreign- exchange strategy in London: ‘‘What we did hear out of Brussels does not convince us that euro markets can remain stable for long. While the EFSF now has the flexibility required to deal with the challenges of protesting credit markets, the size of the EFSF has not been increased, leaving markets guessing how long it may take before this market-calming instrument may run out of funds’’

Bank of Tokyo-Mitsubishi UFJ Ltd.’s Lee Hardman, a currency strategist in London: ‘‘The plan falls short of achieving debt sustainability with debt to gross domestic product ratios for Greece, Portugal and Ireland still likely to remain comfortably above 100 percent. A continuation of solvency concerns will leave the door open for contagion fears to rebuild. Beyond the new bailout euphoria, relative economic fundamentals are turning against the euro with growth in the euro-zone slowing sharply’’

E agora, Europa?

A União Europeia poderá ter comprado algum tempo com a cimeira de ontem. A demonstração de unidade e de vontade em enfrentar o problema é, por incrível que pareça, uma novidade. O facto de vir tarde, e desse atraso ter custos muito significativos (entre os quais a necessidade de realizar uma intervenção externa em Portugal), não faz com que esta resposta deixe de ser uma boa notícia.

No entanto, e muito ao jeito destas cimeiras, há respostas fundamentais que não foram dadas. Para que o fundo europeu funcione como uma barreira de protecção a países como Espanha e Itália, vai precisar de bolsos bem fundos, à semelhança do que aconteceu com o TARP. Estão os países europeus (com a Alemanha à cabeça) na disposição de desembolsar os fundos necessários? O ignorar do impacto de uma potencial declaração de um evento de crédito na Grécia (bem como a promessa de este ser o último pacote de ajuda) também parecem ser consequência do wishful thinking que muitas vezes domina os corredores de Bruxelas.

Ainda assim, os mercados parecem estar, para já, a dar o beneficio da dúvida à solução apresentada. Convinha que este fosse usado para tentarmos resolver alguns dos problemas de arquitectura institucional que são causa, tanto do problema, como da incapacidade de resposta até agora. A redefinição do papel do BCE, passos progressivos de harmonização fiscal e uma visão global, e não país a país, dos desequilíbrios existentes, são essenciais para que o tempo da União Europeia não venha a ter um fim abrupto.

14 Jul 2011

Era bom

O impasse domina a actualidade, tanto na resolução da crise de dívida soberana na União Europeia, como no aumento do tecto de dívida nos EUA. Qualquer um destes problemas tem consequências sistémicas que, honestamente, ninguém pode prever.

Era bom que não estivéssemos todos, dentro de poucos meses, a perguntar como foi possível tamanha irresponsabilidade de tantos ao mesmo tempo. Até porque, mesmo não sendo politicamente fáceis, as soluções existem. Manter o impasse é o que menos interessa a todos.

13 Jul 2011

Risco alto

Todos sabemos que, mais cedo ou mais tarde, a União Europeia vai ter de fazer uma escolha. As não-soluções que foram sendo apresentadas desde o início da crise grega foram sempre entendidas, por todos, como um sucessivo adiar do problema, até serem reunidas umas "fantasiosas" condições que nunca ninguém explicou quais seriam.

O tempo para continuar a adiar chegou ao fim. A mensagem que os investidores em dívida pública de países europeus fizeram passar durante as últimas duas semanas foi clara: a inacção europeia faz com que cada país da zona euro seja avaliado exclusivamente pela sua capacidade em cumprir o pagamento da respectiva dívida, ainda para mais num contexto de sinais visíveis de recuo no processo de integração a que assistimos nas últimas décadas.

No entanto, entre o desejo por uma solução e a capacidade de a realizar, há um bom número de obstáculos. O acordo de um número grande de países, com calendários eleitorais diversos, obriga a uma gestão para a qual já não existe tempo. Acresce que em parte desses países, a opinião pública foi bombardeada com a demagogia da dicotomia moral entre os virtuosos do Norte e os preguiçosos do Sul. Agora o discurso vai ter de ser totalmente invertido, alertando finalmente os eleitores para o facto de os custos de uma solução serem muito inferiores aos catastróficos custos de um desmantelar da zona euro (sim, é isso que está em causa). Só podemos esperar que não seja tarde demais.

11 Jul 2011

Assis e a afectividade

«Repugna-me a ideia de que é possível transformar a vida política num imenso magma de afectividade, porque isso é a redução e a destruição da política. A política não é a dimensão do afectivo, isso é outra dimensão das nossas vidas. A política é a dimensão da discussão das ideias, do debate, da contraposição, das convergências e divergências em torno de projectos, de ideias e propostas»

Concordo muito com estas palavras de Francisco Assis, que fui buscar à notícia da TSF. E, já agora, outra coisa que me repugna é o aproveitamento que está a ser feito através de títulos enganadores, próprios de quem apenas vive do (e no) soundbite.

7 Jul 2011

É pena

Pensar dá imenso trabalho. Mais ainda quando corremos o risco de chegar à conclusão que estamos errados.

6 Jul 2011

Moody's

A Moody's diz, resumidamente, três coisas:

1) A deterioração da situação na Grécia pode vir a ter consequências graves para Portugal e continua a não existir uma solução sistémica por parte da Europa para o problema da crise de dívida soberana.
2) As medidas contidas no memorando de entendimento têm um elevado risco de execução e não é claro que tentem resolver no longo-prazo o principal problema da economia portuguesa: o fraco crescimento económico (no curto prazo, estas medidas são obviamente recessivas).
3) O grau de alavancagem do sistema financeiro português é uma potencial preocupação acrescida para as contas públicas portuguesas.

Tenho as maiores reservas relativamente ao actual papel das agências de rating no sistema económico global, nomeadamente em relação às profecias auto-realizáveis. Mas dizer que não existem argumentos para um corte de rating (a dimensão do corte é outra discussão) pertence à já típica estratégia do pensamento mágico.

Coisas que deviam ser simples

Quando estamos anos a afirmar que a acção concreta de um governo (e em especial de uma pessoa) é a única causa de todos os males, não nos podemos depois queixar de sermos avaliados pela mesma bitola.

Sim

Nove anos depois, continuas a salvar-me todos os dias.

4 Jul 2011

Política

O tom de governo de salvação nacional a que assistimos no final da semana passada, durante o debate parlamentar sobre o programa do governo, era de esperar. Assenta particularmente bem às bancadas que formam a actual maioria, de repente imbuídas de um espírito de apelo à responsabilidade que, curiosamente, descobriram agora ser importante para o destino do país.

Mal estaria a oposição, e aqui refiro-me ao PS, se decidisse usar o mesmo tipo de tácticas (criadas pelo PSD, PR e outras forças vivas da nação) que levaram à queda do anterior governo e ao agravar significativo da crise em que estamos mergulhados.

No entanto, não faltava mais nada que se equivalesse a legitimidade para governar ao pedido de um comportamento por parte da oposição que, sob a capa de uma "posição responsável", significasse a anuência a todas as medidas que este governo pretenda implementar. Não só porque nem tudo foi sufragado em eleições - qual o custo eleitoral do corte do subsídio de Natal? -, como também porque se não existem grandes dúvidas sobre a necessidade de reduzir a despesa pública, a forma como esta redução será feita é tudo menos irrelevante. A unanimidade desejada por alguns é, cedo ou tarde, o pesadelo de todos. A "salvação nacional" só pode vir do confronto de ideias. Da Política, portanto.