26 Aug 2011

Bom senso

O discurso de Ben Bernanke hoje em Jackson Hole tem o condão de lançar definitivamente para a agenda política a necessidade de evitar que uma política fiscal altamente contraccionista (nos EUA e na Europa) ajude a provocar uma nova recessão global. A resolução do problema do excesso de dívida (que será sempre um tema de médio/longo prazo) será muito mais difícil, se não impossível, num cenário de crescimento nulo ou negativo.

Alvalade

Ontem foi o regresso a Alvalade, na esperança de que o nível de sofrimento pudesse ser inferior ao dos dois últimos anos. Foi. Embora, a espaços, desse a sensação de que continuamos sem treinador (como nos últimos dois anos), já deu para voltar a ver - de vez em quando - o Sporting a jogar futebol. Capel tem jeito para jogar e para criar empatia com as bancadas (o que não deve, de maneira nenhuma, ser menosprezado). Izmailov é, sem surpresa, o melhor reforço da época.

Mas era bom que aumentássemos o nível de tolerância para com a equipa. Os assobios foram mais que muitos e isso tem de nos envergonhar, enquanto sócios e adeptos. Se é certo que foram dois anos desesperantes, é preciso dar tempo quando se está a construir uma equipa quase de raiz. É verdade que a insistência em Djaló e Postiga desafia a compreensão humana. Mas, se não há nunca justificação para assobiar aquelas camisolas, ainda menos quando é claro que o que é preciso é tempo e apoio incondicional.

25 Aug 2011

2 lições da semana

1) Nunca deixes que o ressentimento perdure e te domine.
2) Evita que a natural presunção da boa-fé alheia resulte em que te apanhem desprevenido.

24 Aug 2011

Confusos?

Sim, é preciso reduzir o nível de endividamento. E sim, austeridade em excesso é a melhor maneira de garantir que os níveis de endividamento não serão reduzidos. Confusos? Não se preocupem, os líderes europeus também.

23 Aug 2011

Desta para melhor

"com esta da austeridade, meu senhor, nem sequer dá para ir desta pra melhor", cantava Sérgio Godinho há uns anos, e cheio de razão. Ignorando o significado corrente da expressão, é difícil perceber como é que medidas de austeridade de toda a gente ao mesmo tempo nos levarão, literalmente, desta para melhor.

Sem crescimento ou inflação, por todo o mundo desenvolvido estar a contrair simultaneamente a política fiscal, vamos todos ficar (muito) mais pobres e tão (ou mais) endividados do que no início desta crise. E, mais grave, colocamos o processo de integração europeia cada vez mais em risco. É que casa onde não há pão, e tal.

20 Aug 2011

Fim de férias (III)

E para fechar a estadia no Algarve, uma tempestade das antigas: vento, chuva, relâmpagos e trovões. É para eu não notar a diferença quando os mercados abrirem na 2ª feira, aposto.

19 Aug 2011

Fim de férias (II)

Ver o ouro em máximos históricos ao mesmo tempo que as taxas de juro de países considerados refúgio (EUA, Alemanha) atingem mínimos é o pior sinal que poderíamos ver. Receios de recessão global e de saúde do sistema financeiro. Vai ser um regresso interessante. No sentido da maldição chinesa, claro.

Fim de férias

Tudo parece mais simples frente ao mar, talvez por que sei ser apenas um momento de pausa.

2 Aug 2011

Álvaro

Quando o Álvaro aceitou ser ministro da economia e de mais uma data de coisas, escrevi que ia ser engraçado ver o choque entre tudo o que andou a defender na campanha e a realidade do que é ser responsável pela governação de uma área fulcral para o nosso país. Enganei-me.

Não tem nada de engraçado ver um rol de soundbites - como a reforma ao Sol, a Flórida da Europa ou as exportações representarem 50% do PIB - serem apresentadas como algumas das pedras-chave da política do governo para esta área. Ainda menos, acompanhadas da deselegância profunda de mandar umas bocas sobre a "opulência" encontrada, ao mesmo tempo que tenta justificar o salário de uma nova "super" chefe de gabinete. Se já estávamos conversados sobre as políticas, ficámos agora conversados sobre o estilo que podemos esperar.

Entre a frigideira e o fogo

Temos um número crescente de países a ter de diminuir o nível de dívida utilizado (pública e privada, embora esta última nunca esteja nos radares políticos e noticiosos), depois de décadas de excessos e da necessidade de conter a crise financeira global de 2008. O "bom caminho", elogiado por quem insiste numa concepção mesquinha da economia, é representado pela austeridade - diminuir a dívida através de cortes na despesa do estado e das famílias e as comparações com um orçamento familiar pululam por aí, sempre num tom muito educativo. De facto, se o nível de receita e despesa no meu orçamento familiar estiver desequilibrado, eu posso cortar a despesa até chegar ao equilíbrio, sem levar em conta o impacto que esse corte terá na parte da receita. Já quando temos uma contracção simultânea na despesa de todos os agentes (estado incluído), não é difícil perceber que isso tem um impacto na economia, isto é, nos rendimentos de toda a gente. Daí o paradoxo que se verifica quando todos os agentes aumentam simultaneamente a sua taxa de poupança: a taxa de poupança sobre o rendimento, de facto, diminui. Ou seja, a austeridade, quando aplicada de uma forma cega e moralista, corre o sério risco de nos tornar a todos mais pobres e tão ou mais endividados do que estávamos quando iniciámos o processo.

Temos, assim, uma dívida insustentável e uma solução que, pelo seu radicalismo, tende a piorar o problema. Deixarmos que surjam taxas de inflação mais altas (uma heresia só comparável a defender que o estado tem um papel a desempenhar na economia), pode bem vir a ser a única solução que nos resta. Mas isso implicaria uma reformulação total das actuais instituições europeias.