19 Mar 2013

WTF, Europa?


O tempo da complacência tem, cedo ou tarde, de acabar. A actuação do BCE em 2012 retirou o risco de colapso eminente, mas não alterou nenhum dos problemas de base da zona euro, nomeadamente as questões de falta de soberania monetária identificados aqui pelo João.

Ainda assim, as decisões que rodeiam o resgate a Chipre voltam a mostrar uma União Europeia que insiste em olhar para o problema como uma série de casos isolados, com cada país concentrado em olhar para o seu umbigo e não para o projecto comum que partilhamos. Face a tudo isto, a novidade do imposto sobre depósitos é apenas uma anedota que vem confirmar a falta de vontade da Europa em criar soluções reais e integradas. Uma anedota plena de irresponsabilidade, verdade. E novidades?

18 Mar 2013

Ninguém é o Chipre

Não é nada menos que dramático assistir às últimas decisões da União Europeia, desta vez sobre Chipre. Toda esta crise continua a ser gerida como se se tratasse de problemas individuais de países, que têm de ser graciosamente suportados por quem, conjunturalmente, se encontra numa situação mais favorável.

Toda esta crise começou no sistema financeiro. Demorámos anos a conseguir quebrar o ciclo vicioso entre banca e estados soberanos. Um ciclo quebrado, diga-se com apenas uma frase Mario Draghi, presidente do BCE: faremos o que for necessário para salvar o euro.

A esperança de que a Europa aproveitasse a acalmia para mudar de estratégia sofreu, no sábado, um rude golpe. Por causa do Chipre (uma economia pequena, mesmo quando comparada a dimensões como Portugal e Grécia), e mantendo o mesmo tipo de moralismo bacoco que na altura do PSI grego quase acabou com o euro, a Europa decidiu passar uma mensagem aos cidadãos de todos os países intervencionados, ou em vias de o ser: a aplicação (depósitos) que sempre foi considerada a mais segura (inclusive pelo fundo de garantia) está à mercê de quem (ah, a ironia) vos "concede" ajuda.

A leviandade desta imposição ao Chipre demonstra, acima de tudo, uma coisa. Que os líderes europeus não entenderam nada do que está por detrás desta crise e insistem, depois de tanto tempo, em lidar com ela numa lógica de cada um por si. A União Europeia, o projecto de paz num continente cuja história de séculos não se recomenda, não merecia isto.

5 Mar 2013

Resumindo

1) Num contexto recessivo, causado por uma menor utilização de crédito por parte do sector privado, não há austeridade que equilibre as contas públicas.

2) Insistir em gerir um país como se fosse um orçamento familiar tem o seu quê de alucinado.

3) O problema de excesso de dívida na generalidade dos países desenvolvidos é bem real. Mas a dívida pública não representa nem sequer a maior parte da dívida total dos países da periferia. Isto é ainda mais verdade se olharmos para os anos de início da crise, antes da intervenção dos governos para evitar uma nova grande depressão na sequência da crise financeira global.

4) O foco exclusivo na componente pública da dívida revela essencialmente um preconceito ideológico: tudo o que é público é inerentemente mau e deve ser combatido. As análises de sustentabilidade da despesa pública, feitas num contexto recessivo como este, enfermam desse mesmo preconceito e não podem, como é óbvio, ser levadas a sério.

5) Promover um ajustamento rápido das contas públicas neste contexto é ignorar o funcionamento dos estabilizadores automáticos. Uma desalavancagem simultânea de todos os agentes económicos tem como resultado o que temos visto: uma recessão em aceleração e sem fim à vista, e uma incapacidade total em equilibrar as contas públicas.

6) Resta a inevitabilidade. Dado que dependemos dos nossos credores não temos alternativa. Sendo isto verdade, pelo menos se pretendemos permanecer na zona euro, nada justifica o entusiasmo do nosso governo pela austeridade, versão hardcore. O problema português não poderá ser resolvido sem uma alteração das políticas e arquitectura europeias, em especial deixarmos de ter esta bizarria de ser o único bloco económico sem um banco central. Lutar por estas alterações é da maior urgência.

7) Isto porque insistir numa política errada, mas da qual não podemos fugir, arrisca-se seriamente a juntar à destruição da economia a destruição da democracia.

4 Mar 2013

Continuem a mandar postais

Vou vendo por aí tentativas desesperadas de justificar o injustificável: o desastre destes quase dois anos de governação deve ser explicado não por vontade própria, mas pela necessidade de ganhar a tal credibilidade externa, pondo em prática para isso uma série de políticas que, de racional, nunca tiveram nada.

Portanto, se eu concordar com um plano que não faz sentido nenhum e o implementar cheio de vontade (indo inclusivamente além do mesmo), destruo o país, mas ganho credibilidade. Está bem.