31 Mar 2011

Rir é o melhor remédio

Uma coisa não podemos negar: somos um país divertido. A caminho da tragédia, mas sempre nos vamos rindo pelo caminho. De que outra forma podemos explicar estas últimas duas semanas na vida política nacional?

Equilíbrio

A resposta europeia à crise da dívida soberana tem, essencialmente, um problema: não é uma resposta. Para além dos avanços e recuos que têm existido, deixando os países mais frágeis a cozer em lume brando, olha apenas para o denominador do rácio dívida/pib. Os proponentes de medidas austeridade cada vez mais severas fingem ignorar os efeitos destas sobre a economia, podendo facilmente ser criado um ciclo vicioso em que, ficando todos mais pobres, continuamos exactamente com o mesmo nível de endividamento.

Claro que são precisas medidas de austeridade. Claro que há gastos públicos que não se justificam e são essencialmente desperdício. Mas moralismos e comparações simplistas à parte (a tal ideia de que o Estado deve ser gerido como se fossem as finanças de uma casa), um plano de redução de dívida tem de ser equilibrado o suficiente para evitar anos e anos de uma contraproducente depressão económica.

Existe ainda o risco de demasiada austeridade ser recusada pela maioria de nós, naquela coisa incomodativa que se chama eleições. Acho que nos esquecemos disto mais vezes do que devíamos.

30 Mar 2011

Escolhas

Isto não vai ser bonito, já todos percebemos. A discussão sobre a culpa da situação actual das finanças públicas é interessante, mas inútil dado o clima de campanha eleitoral, em que estamos a viver já há algum tempo.

O pedido de ajuda externa, que era evitável se estivéssemos todos focados nos objectivos que precisamos de cumprir, é agora mais do que certo. Apenas resta a dúvida de quem o vai fazer, o governo de gestão nos próximos dois meses ou o que sair das eleições que aí vêm.

O principal problema prende-se com a perda de margem de manobra para fazermos escolhas políticas que são importantes. Os técnicos que nos vão governar nos próximos tempos, fruto das contrapartidas que teremos de oferecer para receber financiamento, não são muito imaginativos: a receita que nos será aplicada será a mesma de sempre. Vamos cortar onde devíamos e onde não devíamos, retirando protecção às camadas mais frágeis da nossa população. É que, por mais difícil que seja de entender, a parte de leão da despesa pública são transferências de rendimento para pessoas - nas quais se incluem pensionistas, desempregados e uma franja de pessoas abaixo de um limiar de pobreza que, como sociedade, não devíamos tolerar.

"O que tem de ser, tem muita força", costumava dizer a minha mãe. Verdade, mas não precisava de ser à maneira do FMI.

29 Mar 2011

Inquietude

O conforto de ser apenas espectador está a tornar-se insuportável.

22 Mar 2011

União (nacional)

Arrepio-me com os apelos ao consenso, à criação de um governo com vários partidos e assim. Democracia é escolha, convém que ela exista.

21 Mar 2011

Sorry, wrong number

Não me comovem os apelos à responsabilidade, até porque acredito que quem insiste em caminhos perigosos numa fase destas se arrisca a pagar um preço bem alto em futuras eleições. Mas não é pelo facto de agora ser o "meu" lado da barricada a clamar "depois de mim, o dilúvio" que esse tipo de conversa merece mais respeito da minha parte.

Spóquem (4)

Bruno de Carvalho é a escolha óbvia para os meus preciosos 4 votos. Se correr bem, óptimo. Se for tudo uma vigarice o clube acaba em 2 anos, deixando assim de ser uma preocupação.

Vamos a votos?

Continuo à espera das propostas do PSD sobre como cumprir as metas orçamentais estipuladas. É que, das duas uma: ou o PSD ainda não tinha percebido que serão necessárias mais medidas, o que não abona a favor da percepção da realidade na S. Caetano, ou, sabendo, estão a jogar um jogo bem perigoso, dado que qualquer que seja o próximo governo, terá de tomar estas e/ou outras ainda mais gravosas durante os próximos anos.

A luta partidária é o que é e claro que temos de viver com ela. Mas há alturas em que um bocadinho de responsabilidade e de capacidade de não hipotecar a credibilidade futura é capaz de vir a dar jeito. E isto é válido para todos. PS incluído, dado que o grau de inabilidade na negociação e apresentação das novas medidas atingiu também níveis difíceis de compreender.

Atingido este estado de coisas, acho que eleições são mesmo a única solução. Enfrentar uma crise desta dimensão sem uma legitimidade clara ou capacidade de cooperação leal entre todos os envolvidos é, de longe, o pior cenário.

7 Mar 2011

Foi bonita a primavera, pá!





E ainda assim, viva o "erro cósmico"

Discussão

- Desconfio que a democracia não resulta. Juntam-se astronautas, bodes,
camponeses, galinhas, matemáticos e virgens loucas e dão-se a todos os
mesmos direitos.
Isso parece-me um erro cósmico. Desculpa.

Desculpei mas fiquei ofendido. Que a democracia era aquilo mesmo, e ainda
com conversa fiada como brinde, isso sabia eu. Que mo viessem dizer,
era outra coisa.
Fiquei ainda mais ofendido, até porque não gosto de erros cósmicos.
Acho um snobismo.

- Eu sou democrático - rugi entre dentes, como resposta. - Tenho amigos no exílio,
todos democráticos.
Foram para lá por serem democráticos. É um sacrifício que poucos fazem,
ir para o exílio e ser professor universitário exilado e democrático.
Eras capaz de fazer isso ?

- Não sou democrático.

Não havia resposta a dar. nenhuma. Ele não era democrático, não
sabia de democracia.

Eu sim, sou democrático, até já quis ir à América, que me afirmaram que
lá é que é a democracia.

Recusaram-me o visto no passaporte, disseram que eu era comunista!
Viram isto ?

Mário Henrique Leiria
Contos do Gin-Tonic


Vou-me lembrando periodicamente deste texto de Mário Henrique Leiria (autor responsável, aliás, por uma parte relevante da minha formação cívica). As manifestações marcadas para sábado (cujo único tema em comum parece ser a negação da responsabilidade pessoal), o ridículo frémito sentido por aí com a vitória dos "homens da luta" no festival da canção, a incapacidade da oposição em defender ideias concretas sobre como sair da situação actual - sem ser declarações vagas sobre redução de despesa seguidas de votos concretos contra medidas específicas para o fazer -, deixam-me, mais do que perplexo, espantado. Encontrarmos culpados (desde que nunca eu) faz parte da nossa condição. Mas esperava - lirismo, bem sei - que perante um dos momentos mais difíceis das ultimas décadas, fôssemos capazes de alguma coisa um bocadinho melhor que isto. Pelos vistos, não.