16 Sept 2013

Credibilidade

Vejo por aí spin a rodos sobre como a nossa credibilidade foi afectada pela crise política de julho, tentando colocar totalmente o ónus na suposta irresponsabilidade do nosso actual vice-pm. Ora, este spin é interessante. Vejamos o que deve ter dado imensa credibilidade:

1) Apoiar entusiasticamente e inclusive ir além de um programa de ajustamento que estava errado na análise da crise e nas soluções que propunha.

2) Ainda assim, conseguir falhar redondamente todas as metas definidas nesse programa em termos de execução orçamental.

Nem eu, nem ninguém, sabe o que pensam os investidores em dívida portuguesa. Mas colocados perante a insustentabilidade da dívida caso não cumpramos o programa ou a mesma insustentabilidade da dívida caso o cumpramos, só resta mesmo a esperança na mudança de atitude das instituições europeias. 

Insistir em cumprir um programa cuja ineficácia está mais do que comprovada, e tentar vender isso como a única coisa responsável que podemos fazer, em nome de uma credibilidade dos mercados que ninguém consegue identificar, é simplesmente fazer-nos a todos de estúpidos. Faz mesmo falta alguém que diga basta. De preferência, de forma irrevogável.

Taxonomia

Ontem, numa conversa sobre relações, a certa altura dizem-me: "sim, mas tu és dos outros". E agora, o que faço com esta classificação?

10 Sept 2013

Nunca paramos de dizer adeus

Porque enquanto dizemos adeus não é o fim, pois não? Quase 13 anos, um terço da minha vida, ou bem mais, por serem estes, por serem os últimos, e ainda te procuro. Todos os dias. Em coisas como a preocupação crescente com os teus pais ou o puzzle cada vez mais interessante que é viver o crescimento da Mê.

Mas também noutras coisas. No usar cada vez mais as expressões que eram tão tuas (e às vezes me irritavam tanto). Em tentar ver nas linhas que me cruzam a cara as mesmas que cruzavam a tua. Falando comigo como se fosse contigo, como se ainda me pudesses dizer o que achas do que estou a fazer, com a dose certa de ternura e firmeza que sempre me deslumbrou. Afinal, o amor nunca nos cegou, não é?

Claro que cegou, mãe. E ainda bem, se for isso que me permita nunca parar de te dizer adeus.  

6 Sept 2013

Cantando e rindo de quê?



Encontrei no twitter este gráfico, na conta do jornalista financeiro italiano @fgoria (uma conta obrigatoria para quem se interessa por mercados e Europa). A contínua redução dos indicadores de risco sistémico na zona euro tem-se sentido desde 2012, primeiro com as LTRO e depois, de forma mais pronunciada, com o discurso do faremos o que for necessário e subsequente criação das OMT (que, até hoje, nunca foram activadas). Sei bem que tenho tendência a ser Cassandra neste tema, mas a calma que vou vendo por aí perturba-me cada vez mais. Nenhum dos problemas estruturais da zona euro está resolvido e os sucessivos paliativos concedido à Grécia e a Portugal, não contribuem em nada (pelo contrário, pioram) a sustentabilidade da dívida pública. 

Ontem, na conferência de imprensa do BCE, Draghi foi claro ao afirmar que a instituição a que preside não podia monetarizar défices nem participar em qualquer perdão oficial de dívida pública. Falha minha, certamente, mas não consigo entender como vamos sair disto sem estas duas opções e, logo, a razão de toda esta calma, face ao problema europeu, que vou vendo por aí.