25 Apr 2004

Espaço de Sonho


No dia 25 de Abril de 1974 eu ainda não tinha nascido. O meu Abril, aquele
que me formou, foi criado pelos meus pais, pelos valores que me
transmitiram, pela festa que faziam sempre que se comemorava o Dia da
Liberdade.
Lembro, com demasiada saudade, os ramos de cravos vermelhos com que a minha
mãe enchia a casa, estivéssemos ou não, em Abril. Lembro quando me mostraram
a voz quente do Fernando Tordo a cantar a poesia de José Carlos Ary dos
Santos: “O povo não é livre em águas mornas / Não se abre a Liberdade com
gazuas”. Lembro-me de ouvir, com eles, vezes sem conta, Zeca Afonso, exemplo
máximo dos trovadores de Abril. Talvez por isso, ainda hoje me sinta um
“Filho da Madrugada”.
O 25 de Abril é, para mim, um espaço emocional, porque não o vivi. Um espaço
de sonho, de inocência, de acreditar que tudo é possível. O primeiro
momento, o momento fundador, de todos os ideais em que acredito. Liberdade.
Democracia. Solidariedade. Paz.
Neste dia, 25 de Abril de 2004, quero dizer obrigado e prestar homenagem aos
militares que souberam dizer basta. E aos meus pais por terem criado, para
mim que só nasci depois, esse espaço de sonho.

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