É difícil perceber que morreste há mais de 10 anos. Que há 1 década que não ouço a tua voz rouca, que não sinto a tua mão a acariciar-me a cara, como fazias tantas vezes. Já escrevi aqui, faz tempo também, que às vezes tenho a sensação de este ser um sítio onde falo contigo, mãe. Onde vou contando o que se vai passando, como uma prova de vida, da tal vida que continua, como me disseste uns anos antes de morreres, quando foi a vez do pai.
Vou olhando para o espelho e vendo que estou cada vez mais parecido contigo. As mesmas linhas a começarem a desenhar-se na cara, a mesma vontade de continuar, de ser feliz, de "o que tem de ser tem muita força" e "não te preocupes com o que não controlas", como me dizias tantas vezes.
O mais difícil, claro, é ver a M. crescer sem te conhecer, sem te ter na vida dela. Com a noção de que vocês iam ser companheiras, as duas determinadas e com poucos medos, prontas para se divertirem e aprenderem uma com a outra. É pena que não possas ver os teus filhos e netos felizes, pena que o orgulho que sentirias - com todos, mas mesmo todos nós - seja algo apenas projectado por mim, mas que sei real num mundo que fosse um pouco menos cabrão em algumas coisas.
Era isto que te estava para dizer há já uns tempos, mãe. O facto de não o poderes ler não é para aqui chamado, pois não?
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