O pensamento mágico surge quando achamos que por desejarmos muito que uma coisa aconteça ela vai mesmo acontecer, sendo a realidade em que esse desejo se insere algo meramente acessório.
Isto acontece muito no ensino da economia. Muitos dos modelos e teorias em voga simplificam até à exaustão para terem os resultados que são esperados à priori. Se em termos académicos, tal não é especialmente grave e pode ajudar a entender um mundo cada vez mais complexo, quando passamos à aplicação prática - isto é, política - de tais medidas, tudo muda. É que a política tem de lidar com a realidade. E o enviesamento ideológico generalizado do ensino da economia dá credibilidade a estudos com pouca ou nenhuma aplicação real.
O defesa da taxa social única tem características de pensamento mágico. Para além da dificuldade em colmatar a receita perdida com um eventual corte num contexto orçamental dramático (esquecendo assim o contexto em que tal medida seria aplicada), trata-se essencialmente de dar liquidez ao sector empresarial. Que, assim, é suposto ser mais competitivo nas exportações - através de uma redução dos custos com o trabalho.
Ora, era importante perceber se os custos com o trabalho são uma parte relevante da falta de competitividade portuguesa. Não conheço dados que o sustentem e custos salariais elevados não me parece ser um problema premente em Portugal. Para além de que competir via baixos custos salariais é uma estratégia, como dizer..., parva (por ser impossível ganhar essa batalha, felizmente, aliás). Mas fundamentalmente, nada garante que a descida da taxa social única não seja apenas um cheque em branco dado pelos contribuintes às empresas do país. Até podemos acreditar que as empresas façam a coisa certa e produzam e exportem mais e contratem mais pessoas, mas não creio que estejamos em altura de apostar recursos dolorosamente escassos em wishful thinking.
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