Começam a surgir as expectáveis declarações, por parte de membros do governo, da dimensão da crise internacional e do impacto negativo que esta pode ter no esforço de consolidação das contas públicas portuguesas.
Toda a campanha do psd (e cds) para as legislativas foi construída com base numa única narrativa. Os problemas de Portugal eram da exclusiva responsabilidade de Sócrates e (ainda assim, em menor escala, dada a dimensão do ódio personalizado) do ps.
Qualquer pessoa minimamente informada e que não estivesse cega por fanatismo sabia que não é assim. Claro que existe responsabilidade do governo anterior em não ter sido capaz de fazer um maior controlo sobre as contas públicas. Mas a dinâmica iniciada com a crise financeira global de 2008, criando uma recessão profunda que só não se transformou num episódio de depressão económica através da substituição do investimento e consumo privado (que desapareceu) por um aumento dos gastos públicos, reclamaria sempre vítimas. É natural que essas vítimas fossem os estados mais frágeis (porque mais endividados ou com uma estrutura de gastos públicos mais rígida), como a Grécia ou Portugal.
Deitar abaixo um governo e ganhar eleições é mais fácil do que governar um país. A situação actual torna ainda mais fáceis as duas primeiras e mais difícil a última. Quando chega a altura de lidar com a realidade, é necessário mudar o discurso e admitir finalmente que consolidarmos as contas públicas é condição necessária, mas está longe de ser condição suficiente para não entrarmos em incumprimento. Acabou, assim, o tempo da sonsice e de toda a desonestidade intelectual que esta acarretou.
Claro que há uma hipótese alternativa. A de estarmos a ser governados por pessoas que só agora entenderam uma conjuntura internacional que era óbvia. Para bem de todos nós, é melhor pensarmos que são mais sonsos que estúpidos.
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