Considerar a hipótese de o nosso ministro das finanças não saber que a sua conversa "privada" com Schaüble tinha uma probabilidade elevadíssima de ser escutada/gravada é passar-lhe um atestado de incompetência que não me parece razoável. Ou seja, acho que foi feita com o intuito de ser gravada e divulgada. O que, aliás, faz sentido quando consideramos aquilo que parece ser a estratégia do governo. Gaspar insiste em manter a fachada de que o governo vai cumprir na íntegra o memorando da troika porque o quer fazer e não porque a isso é obrigado. No entanto, é claro que 1) a probabilidade de Portugal conseguir voltar aos mercados em 2013 é próxima de zero; e 2) o impacto, em termos económicos, de ir mais longe que a troika vai impedir de forma definitiva que os objectivos orçamentais delineados sejam cumpridos.
Ter uma "conversa privada" ouvida por todos é uma boa forma de poder continuar a dizer uma coisa, enquanto convence os mercados de que seremos salvos se (quando) correr mal. Não é uma má jogada, não senhor. O facto de ter exposto Portugal à humilhação de agradecermos muito a ajuda dos senhores e de ainda ter levado com o ar de enfado de Schaüble, é apenas um pormenor para o nosso ministro, certamente.
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