12 Jan 2013
11 Jan 2013
Armadilhas
Num contexto recessivo (europeu e não apenas português), não há corte de despesa ou aumento de impostos que faça um défice recuar de forma significativa. Os efeitos perversos sobre a actividade económica são suficientemente grandes para anular essas medidas. E quanto mais agressivos formos nesse corte / subida, menor o sucesso no recuo do défice e, como tal, do stock de dívida. Acho que toda a gente percebe isto.
Daí ser claro que a insistência em mais e cada vez maiores cortes, só pode ter como explicação impor como uma inevitabilidade uma visão ideológica do papel do Estado na sociedade que nunca seria possível de fazer noutro contexto. Em resumo, é isto: analisar a sustentabilidade do Estado Social num contexto de recessão profunda, sem ter esse facto em consideração, é apenas má-fé.
9 Jan 2013
Chega
O memorando assinado em 2011, negociado - pelos vistos é preciso dizê-lo vezes sem conta - por PS e PSD com as instituições internacionais, estabelecia objectivos difíceis de atingir em termos de redução do défice orçamental num curto espaço de tempo. O governo entretanto eleito, indo contra tudo o que tinha prometido na campanha eleitoral e no seu programa, decidiu desde o seu início "ir além da troika" através de aumentos de impostos e cortes de despesa que não constavam do memorando original. O efeito desta opção política do governo português foi garantir que a probabilidade de uma espiral recessiva - já de si possível com o memorando original - se transformava numa certeza.
Passados quase dois anos, depois de falhanços estrondosos em toda a linha na execução orçamental em muito derivados da tal opção de ir além da troika, surge então a actual conversa da "refundação" do Estado, hoje consumada com um relatório técnico do FMI, feito a pedido e com a colaboração do actual governo.
Se é verdade que a actuação deste governo há muito que traiu todo o programa com o qual foi eleito, o que é possível ler hoje no tal relatório representa uma alteração da estrutura actual da sociedade portuguesa cuja implementação, mesmo que parcial, não é razoável de ser sequer pensada sem que tenhamos a possibilidade de nos pronunciarmos sobre tal. Se é esta a opção do governo - nem sequer tendo este a simples coragem de a assumir como sua, não se escondendo atrás do FMI - não resta outro caminho que não seja exigir a demissão do actual governo e convocação de eleições.
Não sei que sociedade viremos a ter depois desta crise. Mas não contem comigo para alimentar os agora tão comuns desejos de suspensão da democracia.
Passados quase dois anos, depois de falhanços estrondosos em toda a linha na execução orçamental em muito derivados da tal opção de ir além da troika, surge então a actual conversa da "refundação" do Estado, hoje consumada com um relatório técnico do FMI, feito a pedido e com a colaboração do actual governo.
Se é verdade que a actuação deste governo há muito que traiu todo o programa com o qual foi eleito, o que é possível ler hoje no tal relatório representa uma alteração da estrutura actual da sociedade portuguesa cuja implementação, mesmo que parcial, não é razoável de ser sequer pensada sem que tenhamos a possibilidade de nos pronunciarmos sobre tal. Se é esta a opção do governo - nem sequer tendo este a simples coragem de a assumir como sua, não se escondendo atrás do FMI - não resta outro caminho que não seja exigir a demissão do actual governo e convocação de eleições.
Não sei que sociedade viremos a ter depois desta crise. Mas não contem comigo para alimentar os agora tão comuns desejos de suspensão da democracia.
8 Jan 2013
Frio
"Mas ser feliz é sempre uma decisão, nem o Tom Jobim era feliz sem querer, talvez só os bem-te-vi que o Tom Jobim ouvia. E só nós podemos decidir que em vez de morrer vamos ser felizes, essa guerra contra nós."
Alexandra Lucas Coelho, em mais uma espantosa crónica no Público.
Tenho frio. Mais do que me lembro de ter tido em qualquer outro inverno. As mãos, os pés. Uma sensação de desconforto permanente, como se a pele tivesse ficado mais fina, mais permeável. Talvez seja a sensação de ver o tempo passar, de tudo o que ainda gostaria de fazer e me vai fugindo pelos dedos. Ou talvez apenas a consciência, o instante lúcido, de que nunca vou travar uma guerra contra mim.
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