Ora, esta fragmentação é insustentável e é uma das razões que impede, como hoje começa a ser consensual, qualquer esforço de consolidação que, melhor ou pior - infelizmente, no nosso caso, pior -, seja feito pelo governo.
Mas fragmentação é também uma excelente palavra para descrever a acção deste governo, que saiu das eleições realizadas há dois anos. Desde o início, toda a sua actuação foi baseada, tanto no mal disfarçado ressentimento em relação a tudo o que é público, como na exploração do ressentimento para tentar ganhar apoio às medidas que foram introduzindo. A dicotomia público / privado, através da repetição da mentira de tudo ser um desperdício no Estado, é um exemplo. A exploração até à náusea da suposta guerra intra-geracional é outro. A contínua desvalorização das causas estruturais do desemprego - insistindo na tecla de que qualquer desempregado apenas o é porque o quer (incluindo inacreditáveis apelos à emigração), ainda outro.
Este é, talvez, o legado mais pesado que este governo deixará ao país. Quem agora fala de consensos fez muito para os destruir durante estes dois anos. Quem vier a seguir não só terá de ter a capacidade de inverter este rumo desastroso, como terá de o fazer num contexto de uma sociedade portuguesa cada vez mais fragmentada.
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