Temos um número crescente de países a ter de diminuir o nível de dívida utilizado (pública e privada, embora esta última nunca esteja nos radares políticos e noticiosos), depois de décadas de excessos e da necessidade de conter a crise financeira global de 2008. O "bom caminho", elogiado por quem insiste numa concepção mesquinha da economia, é representado pela austeridade - diminuir a dívida através de cortes na despesa do estado e das famílias e as comparações com um orçamento familiar pululam por aí, sempre num tom muito educativo. De facto, se o nível de receita e despesa no meu orçamento familiar estiver desequilibrado, eu posso cortar a despesa até chegar ao equilíbrio, sem levar em conta o impacto que esse corte terá na parte da receita. Já quando temos uma contracção simultânea na despesa de todos os agentes (estado incluído), não é difícil perceber que isso tem um impacto na economia, isto é, nos rendimentos de toda a gente. Daí o paradoxo que se verifica quando todos os agentes aumentam simultaneamente a sua taxa de poupança: a taxa de poupança sobre o rendimento, de facto, diminui. Ou seja, a austeridade, quando aplicada de uma forma cega e moralista, corre o sério risco de nos tornar a todos mais pobres e tão ou mais endividados do que estávamos quando iniciámos o processo.
Temos, assim, uma dívida insustentável e uma solução que, pelo seu radicalismo, tende a piorar o problema. Deixarmos que surjam taxas de inflação mais altas (uma heresia só comparável a defender que o estado tem um papel a desempenhar na economia), pode bem vir a ser a única solução que nos resta. Mas isso implicaria uma reformulação total das actuais instituições europeias.
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