A Europa - o projecto de construção de uma união europeia - faz parte das nossas vidas. Mesmo os nascidos na década de 60, passaram já a maior parte da sua vida inseridos neste projecto. Ainda mais para as populações dos países fundadores da (então) CEE.
Sabemos que a habituação gera complacência. Os perus, alimentados todos os dias até chegar o Natal, ficam certamente surpreendidos no dia em que a mesma mão que lhes trazia a comida se apresenta agora com uma faca. A complacência gera riscos, quando o facto de não conseguirmos imaginar que podia ser de outra maneira, nos faz deixar de dar valor ao que temos actualmente. Quando apenas vemos os custos que determinada situação traz, sem olharmos sequer uma vez para todos os benefícios - os tais que damos por adquiridos.
Parece-me impossível, num debate racional, defender que uma dissolução da zona euro, e o enorme passo atrás que significaria para a integração europeia, seja a melhor solução. Já escrevi aqui que a "solução" encontrada na cimeira europeia de final de Julho poderia, na melhor das hipóteses, comprar tempo à União Europeia para iniciar as reformas, no seu desenho institucional, que nos protegessem a todos desta e de futuras crises económicas e financeiras. A melhor das hipóteses, como seria de esperar, não se concretizou. Nem uma discussão profunda do que é preciso mudar foi iniciada, nem os mercados financeiros - também assustados por uma forte desaceleração sentida no crescimento económico global - têm tempo para nos dar.
Quando chegar o momento em que não é possível adiar mais os problemas, teremos de fazer uma escolha, se calhar das mais importantes em que participaremos na nossa vida. Queremos estar juntos, mais fortes, mais prósperos, em paz. Ou não.
Esse momento, que parece estar cada dia mais próximo, vai exigir líderes fortes. Ou, se calhar, apenas pessoas que entendem o quanto todos temos a perder quando deixamos os nossos parceiros cair.
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