Não é nada menos que dramático assistir às últimas decisões da União Europeia, desta vez sobre Chipre. Toda esta crise continua a ser gerida como se se tratasse de problemas individuais de países, que têm de ser graciosamente suportados por quem, conjunturalmente, se encontra numa situação mais favorável.
Toda esta crise começou no sistema financeiro. Demorámos anos a conseguir quebrar o ciclo vicioso entre banca e estados soberanos. Um ciclo quebrado, diga-se com apenas uma frase Mario Draghi, presidente do BCE: faremos o que for necessário para salvar o euro.
A esperança de que a Europa aproveitasse a acalmia para mudar de estratégia sofreu, no sábado, um rude golpe. Por causa do Chipre (uma economia pequena, mesmo quando comparada a dimensões como Portugal e Grécia), e mantendo o mesmo tipo de moralismo bacoco que na altura do PSI grego quase acabou com o euro, a Europa decidiu passar uma mensagem aos cidadãos de todos os países intervencionados, ou em vias de o ser: a aplicação (depósitos) que sempre foi considerada a mais segura (inclusive pelo fundo de garantia) está à mercê de quem (ah, a ironia) vos "concede" ajuda.
A leviandade desta imposição ao Chipre demonstra, acima de tudo, uma coisa. Que os líderes europeus não entenderam nada do que está por detrás desta crise e insistem, depois de tanto tempo, em lidar com ela numa lógica de cada um por si. A União Europeia, o projecto de paz num continente cuja história de séculos não se recomenda, não merecia isto.
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