20 Jun 2013

Limite

É dos livros de história que as crises económicas são mais severas quando provocadas por uma crise financeira. Quando juntamos a isto uma Europa que escolheu, e continua a escolher, não ter os instrumentos adequados para lidar com uma crise desta dimensão, não é difícil perceber porque é que o continente europeu está mergulhado na segunda recessão desde 2008.

Ainda assim, há uma enorme diferença entre a periferia e o centro da zona euro. As economias periféricas, reféns de atrasos crónicos com causas estruturais que não se revertem em décadas, quanto mais em anos, têm como única receita dada pelos seus credores (e aplicada entusiasticamente por governos como o nosso), empobrecerem. E quanto mais rápido, melhor.

Acontece que isto implica, como temos visto em Portugal, muitas coisas que só um estado de anestesia geral permite que aconteçam. Desde atropelos consecutivos à constituição, ao ataque cerrado às franjas mais desprotegidas da sociedade (como no caso do complemento solidário para idosos ou o RSI), ou à tentativa deliberada de colocar grupos uns contra os outros (funcionários pública e pensionistas). Exemplos aos quais podemos juntar uma dose de incompetência na gestão do país que ultrapassa as expectativas mais pessimistas.

Quando se coloca tudo em causa, excepto o dever de pagar as dívidas aos nossos credores, aumenta-se seriamente a probabilidade de, mais tarde ou mais cedo, decidirmos, simplesmente, não pagar. Não perceber isto, que o necessário processo de ajustamento tem de ser feito com bom senso, é trágico. Um dia destes, arriscamo-nos mesmo a descobrir qual é o limite para os sacrifícios.

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