O problema das contas públicas dos países da periferia tem anos e não era uma questão até meados do ano passado. Claro que é sempre desejável (agora obrigatório) que a responsabilidade fiscal faça parte das opções políticas que temos de fazer. E que há muito a fazer em termos de consolidação das nossas contas públicas. Mas, lamento dizer, até porque se fosse verdade era mais fácil de resolver, o nosso problema vai um bocado mais longe do que os tão famosos consumos intermédios.
Uma das principais razões da nossa capitulação tem a ver com a alteração sentida na UE relativamente a uma solidariedade que os mercados presumiam como inatacável. Isto é facilmente demonstrável pelo facto de os spreads das diferentes dívidas públicas da Zona Euro terem sido quase idênticos, apesar de situações bem diferentes nos diversos países, até ao início da crise financeira global. O papel fundamental da UE nesta evolução é, aliás, reforçado pela correlação elevada que os spreads dos países periféricos demonstraram no último ano, muito mais sensíveis aos comentários de Berlim e de Paris do que à evolução dos países afectados.
Depois foi só juntar irresponsabilidade no pior momento possível. Reprovar um novo pacote de medidas de austeridade (que tinha um consenso total junto de quem podia evitar que tivéssemos de recorrer a um pedido de ajuda) numa altura em que Espanha começou a descolar da restante periferia em termos de risco de crédito, é de uma estupidez alarmante. Enquanto Espanha tinha também uma percepção de risco elevada, o risco de deixar cair Portugal era demasiado alto, dado o mais que provável efeito de contágio. Desaparecendo essa muleta e juntando a óbvia percepção, pelo menos para o exterior, de que alguns em Portugal preferiram provocar uma crise política em vez de se continuar um trabalho exigente e difícil de controlo das contas públicas, a ajuda externa confirmou-se definitivamente como uma inevitabilidade. Resta-nos negociar um pacote de ajuda no meio dos excessos inevitáveis de uma campanha eleitoral e com interlocutores nacionais sem legitimidade. Nice going, Portugal.
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