29 Jun 2011

Tacanho, sim, mas what else is new?

O presidente da república portuguesa, uma pequena economia aberta, apela a todos que consumamos apenas produtos portugueses, incluindo férias. Dado que as exportações (isto é, o consumo dos outros países) representam a única saída para uma economia em contracção devido aos cortes orçamentais, não sei bem o que diga disto. Estúpido, embora não surpreendente.

21 Jun 2011

Custo de oportunidade

O custo de oportunidade é uma noção que escapa demasiadas vezes à discussão política. Quando se fazem as contas ao custo da ajuda à Grécia, repetindo-se até à exaustão que serão os países "ricos" da Europa a suportá-lo, poucas pessoas têm em conta qual é o custo, para esses mesmos países, de deixar a Grécia entrar em incumprimento. Resolver a situação grega (e a irlandesa, a portuguesa, a espanhola e o que mais virá) só acontecerá de vez quando os políticos europeus se aperceberem finalmente do desastre que aconteceria, essencialmente via sistema financeiro, ao actual nível de vida de todos os países europeus.

Podíamos ter evitado chegar aqui? Sim, se o optimismo típico de quem acha que os desequilíbrios macro-económicos se podem manter eternamente não tivesse vencido na altura da criação da zona euro. Ou então, numa sugestão verdadeiramente peregrina, se as regras sobre défices orçamentais e dívida/PIB que existem desde o início, tivessem alguma vez passado de boas intenções.

A zona euro, junto com os seus problemas, foi criada por todos os países envolvidos. Agora não vale assobiar para o lado.

20 Jun 2011

Falhar

“There are few things more liberating in this life than having your worst fear realized. Whether you fear it or not, true disappointment will come but with disappointment comes clarity, conviction and true originality.”

Do discurso de Conan O'Brien à classe de 2011 de Dartmouth. Vale muito a pena ver.

17 Jun 2011

A crise que não existia mas agora existe

Fantástica a mudança de tom a que temos assistido na explicação dos problemas que Portugal enfrenta. Foi preciso mudar de governo para a nossa comunicação social e maioria dos comentadores políticos e económicos adquirir, finalmente, o bom-senso de entender que a crise em Portugal tem tudo a ver com a crise financeira global de 2008, as medidas tomadas por todos os países para a combater e com a crise de divida soberana daí resultante. É bom ver que o estado de negação, agora que o objectivo foi conseguido, está a desaparecer.

16 Jun 2011

Independentes

Fico um bocado confuso com esta coisa dos independentes. Aparentemente aplica-se a qualquer um que não seja de facto militante de um partido. Se não percebo o que estar filiado num partido tem a ver com independência, ainda me espanta mais que este estatuto, da superioridade do independente, seja usado pelos próprios partidos, desqualificando de forma automática todos os respectivos militantes para dependentes, ou assim.

Gostamos demasiado de usar rótulos. É pena.

Bright vs Dark

Uma vez que já tudo se perdeu

Que o medo não te tolha a tua mão
Nenhuma ocasião vale o temor
Ergue a cabeça dignamente irmão
Falo-te em nome seja de quem for

No princípio de tudo o coração
Como o fogo alastrava em redor
Uma nuvem qualquer toldou então
Céus de canção promessa e amor

Mas tudo é apenas o que é
Levanta-te do chão põe-te de pé
Lembro-te apenas o que te esqueceu

Não temas porque tudo recomeça
Nada se perde por mais que aconteça
Uma vez que já tudo se perdeu

Ruy Belo

Num fabuloso espectáculo dedicado aos poetas, esta foi a segunda música ouvida ontem. Um dos meus poemas preferidos.

15 Jun 2011

Logo à noite


Música de Palavra(s), no cinema S. Jorge

Da resposta da Europa à crise grega

"Something will turn up". Charles Dickens, the Victorian novelist, made the expression famous 160 years ago when he put it in the mouth of Wilkins Micawber, the perennial optimist of David Copperfield.

Início do editorial do FT de hoje, ainda não disponível online

14 Jun 2011

Tempo

Mais tarde ou mais cedo, algum dos países periféricos vai mandar, via eleições, os planos de austeridade às urtigas. Não é uma questão de um default ter menos impacto na vida das pessoas do que os planos de austeridade. Não tem. A acontecer, será bem mais violento. Mas os planos feitos pelas autoridades internacionais têm o tempo a correr contra eles. Demoram anos a fazer efeito, algumas das medidas não são nada lineares em termos de sucesso, é tudo para o longo prazo.

No curto-prazo temos a diminuição do rendimento disponível, economias em recessão imediata e o desemprego a subir ou manter-se em níveis altos. Um ano disto, dois anos disto, e depois? O argumento "tem que ficar pior antes de melhorar" só funciona no curto-prazo.

Na falta de uma solidariedade europeia, que cada vez mais se verifica não existir, vamos ficar surpreendidos quando estivermos a olhar para o colapso da UE?

Notícias em estado de graça

Vou lendo em todos os jornais que ainda não há nomes para o governo, porque Passos Coelho só fará convites depois de ser formalmente indigitado como PM.

Bem sei que o homem também tem direito a um estado de graça, mas caramba... É preciso ser mesmo ingénuo para acreditar e reproduzir alegremente que ninguém foi convidado ainda.

No bright side

Sinto-me a medinacarreirar na questão da crise de dívida soberana europeia. Não consigo encontrar um cenário de solução que não implique custos entre o incalculável (desmembramento da zona euro) e o inaceitável (anos de recessão prolongada nas economias periféricas, sem benefícios visíveis para estas).

10 Jun 2011

Dia de Portugal, e tal

Tenho com Portugal a relação que se esperaria por ser o país onde nasci e vivi até hoje. Gosto de muitas coisas, bastante menos de outras. Mas não consigo compreender o orgulho de ser português, como se isso fosse fundamentalmente diferente de ser espanhol, mexicano ou indiano. Como se todos os povos não tivessem coisas de que se orgulhar e de que se envergonhar.

Assumir que ser português é motivo de um qualquer orgulho especial implica, para mim, assumir uma superioridade que nunca senti. Ainda assim, sempre é um feriado.

O sonso

Temos um PR que exerce cargos políticos desde o início da década de 80, ao mesmo tempo que critica a classe política em cada discurso que faz, como se não lhe pertencesse. Que considera estar acima de qualquer escrutínio, mesmo estando envolvido em negócios que levantam questões legítimas. Cuja concepção de democracia equivale à sua famosa frase: "duas pessoas de boa fé e com acesso aos mesmos dados chegam necessariamente à mesma conclusão" (cito de memória). Que faz um discurso pleno de ressentimento na exacta noite em que é reeleito presidente de todos os portugueses.

Sonso não é uma palavra meiga para mim, como é fácil de perceber.

Coisas que deviam ser simples

É assim tão difícil perceber a diferença entre normal e comum?

9 Jun 2011

80 anos

Têm olhado para o comportamento dos mercados financeiros recentemente?

Agora que a campanha acabou, era bom que percebêssemos de vez que cumprirmos as medidas que nos são exigidas é condição necessária, mas não suficiente, para evitar uma reestruturação da dívida portuguesa.

É que o facto de passarmos a ter uma maioria política, mais do que comprometida com as medidas do MoU, não parece ter alterado grande coisa na percepção do risco de credito português.

O maior risco é bastante maior que nós próprios. Chama-se Europa.

8 Jun 2011

Coisas parvas

Lembro-me, nos tempos de dirigente associativo na faculdade, de dizer, entre outras coisas parvas, que os jotinhas deviam ser proibidos de exercer qualquer actividade política no futuro. Mal sabia eu.

Desilusão

Há uma maioria clara de direita para os próximos quatro anos, embora estes estejam longe de ser quatro anos típicos. Só António Costa conhece as razões de não assumir agora o desafio de se candidatar à liderança do PS, mas esse (não) gesto tem uma leitura de calculismo político.

E isso chateia-me. O PS deve estar orgulhoso de tudo o que foi feito nos últimos seis anos, que foi muito mais do que os erros que foram cometidos. António Costa era um rosto de continuidade, sim, mas diferente o suficiente para criar a distância necessária a um novo líder.

Ficamos assim com António José Seguro, que espera há muitos anos esta oportunidade. Mas, lamento, não me parece que mobilize ninguém fora das tais bases que supostamente o apoiam. E com Francisco Assis, que respeito e foi um líder parlamentar extraordinário, mas que não deverá ser capaz de contrariar o momento de António José Seguro.

A sensação de que o melhor PS - na minha opinião, claro - se vai guardar para tempos mais auspiciosos é uma desilusão. Porque o que foi feito nos últimos 6 anos merece ser realçado e porque os próximos dois anos exigem uma oposição particularmente eficaz às tentações de uma direita reforçada pela maioria confortável que obtiveram e pelo momento peculiar que vivemos.

7 Jun 2011

Às vezes encontram-se coisas assim

Um espanto.

Do silêncio

A evolução dos juros da dívida portuguesa tem muito mais a ver com o que se passa na Europa - em especial na Grécia - do que com o governo português. Isto, que é claro desde o início da crise da dívida soberana, foi durante toda a campanha e pré-campanha desmentido por inúmeros blogs e comentadores afectos à agora nova maioria saída das eleições.

Ora, a pergunta é: se o culpado era o Sócrates, como explicar isto: Juros da dívida sobem para máximo histórico no prazo a 10 anos?

Corporações

Ontem assisti apenas ao início do Prós&Contras - um programa entre o alucinado e o mortalmente aborrecido. Deu para ver, no entanto, aquilo que é claro para quem queira ver. Cada vez que se falava numa área ou num sector da economia que vai ser afectado pelas medidas do memorando de entendimento, lá surgia a corporação respectiva a dizer "não, aqui não é preciso fazer nada, nós somos muito eficientes/importantes/...".

Há quem esteja muito preocupado com o aumento da contestação de rua que, provavelmente, vai acontecer. Eu, confesso que estou mais preocupado com a contestação das diversas corporações que, se calhar também por ser bem menos visível, tende a ser terrivelmente mais eficaz.

6 Jun 2011

Umbiguismo reloaded

Como à espera do comboio, na paragem do autocarro. Esta frase, de uma letra de Sérgio Godinho, volta a estar no cabeçalho deste blog. Porque me sinto assim às vezes, de forma consciente no sítio errado aguardando o que sei que não vai acontecer.

Leitura

"E o PS? Dinamitadas as pontes por onde poderiam atravessar as caravanas do consenso, não se lhe peça que dobre a cerviz. Impossibilidade genética, a que se junta a tentação de ser oposição sem culpa. Sem culpa mas com honra, cumprirá aquilo a que se obrigou, nem menos nem mais. Não lhe peçam para segurar no estribo de cavaleiros de reformas de vingança e ódio, revisões constitucionais aventureiras, e destruições daquilo por que sempre se bateu, ainda mais agora."
António Correia de Campos, no DE

6 de Junho

Nunca fico triste com eleições. Estes resultados dão um mandato claro à direita, através de uma maioria absoluta confortável, para formar governo e implementar o seu programa. Espero, sinceramente, que tenham consigo próprios a mesma tolerância que demonstraram com o anterior governo eleito. Sem desculpas, portanto.

4 Jun 2011

Dia estranho

Este dia de reflexão, em que os órgãos de comunicação social fingem que não escolhemos o nosso futuro amanhã, custa-me sempre um bocado.



3 Jun 2011

Herança

A pior herança dos últimos anos da política portuguesa é o clima de suspeição, insinuações e ódio destilado, diariamente, pela oposição, corporações e alguns órgãos de comunicação social. E é a pior, não pelos efeitos negativos que teve sobre um partido específico, mas porque corre o risco de deixar escola, mesmo que ocorra uma mudança política nas eleições de domingo.

So true





2 Jun 2011

5 de Junho (2)

Em verdade nada tenho a acrescentar em relação ao que escrevi aqui. A campanha serviu-me apenas para reforçar duas ideias: 1) os partidos à esquerda do PS mantém-se no seu próprio mundo, sem capacidade e vontade de fazer parte de uma solução realizável para o país; 2) a possível maioria absoluta de direita (a acreditar nas sondagens) representa a ameaça de um retrocesso significativo em muito do que bom foi construído nos últimos anos, por exemplo na educação, na saúde e nos mecanismos de mobilidade social.

Assim, votar no domingo conta cada vez mais.