31 May 2011

É isto

Escolhas. Ser livre para as fazer. Ter a coragem para ser livre, mesmo que todos, ou muitos, à tua volta não as compreendam por verem as tuas acções através apenas dos seus olhos. Perceber que apenas em liberdade, as tuas escolhas têm algum significado. Escolhas.

30 May 2011

Lucky you


Política

Estamos a discutir personalidades, quando devíamos estar a discutir política. Se é verdade que as pessoas são importantes, esta tendência para "pessoalizarmos" em excesso a democracia - crendo que uma pessoa, aquela pessoa, nos salvará ou nos está a condenar, é um erro que nos sai caro.

Estão em cima da mesa modelos alternativos de sociedade. Visões diferentes sobre as causas da pobreza, do desemprego, do modelo que nos pode permitir voltar a crescer, e da forma como esse aumento de riqueza deve (ou se deve, sequer) ser distribuído. Focarmos campanhas eleitorais em 1, 2 ou 3 pessoas e respectivas características de carácter e não nas ideias que defendem, diminui inclusivamente a possibilidade de avaliarmos se, depois de eleitos, as opções tomadas são coerentes com o que escolhemos através do voto.

Chateia-me ter de continuar a escrever isto, como se não fosse uma evidência.

29 May 2011

Banzo

Fico banzo com a tentativa de passar a mensagem de que tudo o que de mau se passa neste país é culpa de apenas uma pessoa. Será que acreditam mesmo que as pessoas são atrasadas mentais?

Lost

"Dance, dance, otherwise we are lost", ouve-se Pina Baush dizer no fim do filme que Wim Wenders realizou sobre a sua obra.

Impressionante a paixão que transpira, a urgência de nos fazer sentir. Se ainda não viram, vale muito, muito, a pena.

27 May 2011

Europa

Estas eleições decorrem numa altura em que a União Europeia vive uma crise sem precedentes, com consequências que podem ser desastrosas para todos, caso continue a prevalecer a cegueira dos interesses individuais imediatos de alguns países contra o que é o óbvio interesse colectivo.

Que esse tema esteja, de forma geral, ausente da campanha é explicado pela narrativa criada pela oposição: tudo o que aconteceu nesta crise é culpa exclusiva de Sócrates e quem disser o contrário é, obviamente, mentiroso. Esta narrativa tem ainda o efeito perverso de reforçar quem, lá fora e cá dentro, resume os desequilíbrios macro-económicos presentes no espaço europeu a um problema moral dos povos do Sul (que gostam de gastar mais do que produzem, yada, yada, yada...).

Não perceber, ou recusar, o contexto em que estamos inseridos não é só triste. Infelizmente, é também perigoso para a credibilidade de qualquer futura solução governativa.


Tudo tem uma explicação

A gaffe do novo referendo à IVG, a história sobre o concurso público que tinha tido um "feliz contemplado" que era afinal a Universidade Católica, os avanços e recuos típicos de quem não fez as contas relativamente à descida da TSU... Até percebo que Passos queira liberalizar os despedimentos. Deve estar a pensar nos seus assessores, com certeza.

24 May 2011

Campanhas

Não sei se a política de terra queimada que este PSD tem vindo a usar na campanha é mesmo uma questão de estilo, ou apenas uma reacção ao facto de estas eleições estarem a ser mais renhidas do que o que era previsível quando a crise política foi desencadeada.

O que sei é que o insulto ao adversário através de comparações abjectas e a insistência em reduzir tudo - mesmo tudo - a ataques ao carácter, em vez de estarmos a discutir que país queremos depois de 5 de Junho, baixa cada vez mais o nível da política portuguesa. E isso tem consequências demasiado sérias para quem quer que seja o partido escolhido para governar.

23 May 2011

E agora, Europa?

Que surpresa. É triste os líderes europeus precisarem dos mercados para chegarem à conclusão que a "solução" de sucessivos pacotes de austeridade sobre as economias em maior desequilíbrio, conjugado com empréstimos a taxas de juro elevadas (com doses massivas de moralidade à mistura), não resolvem o problema, só o agravam.

Populismo

Ontem Passos Coelho dizia que as críticas feitas por Sócrates ao programa do PSD na área da saúde eram um sinal de desespero, porque vinham de alguém que encerrou maternidades e centros de saúde em vários pontos do país.

Isto é populismo no seu nível mais baixo. A não ser que Passos Coelho ache mesmo que esses encerramentos não representaram uma efectiva melhoria da saúde pública em Portugal. Altura em que passa a ser apenas ignorância. O que, para um potencial primeiro ministro, é ainda mais grave.

19 May 2011

TSU e pensamento mágico

O pensamento mágico surge quando achamos que por desejarmos muito que uma coisa aconteça ela vai mesmo acontecer, sendo a realidade em que esse desejo se insere algo meramente acessório.

Isto acontece muito no ensino da economia. Muitos dos modelos e teorias em voga simplificam até à exaustão para terem os resultados que são esperados à priori. Se em termos académicos, tal não é especialmente grave e pode ajudar a entender um mundo cada vez mais complexo, quando passamos à aplicação prática - isto é, política - de tais medidas, tudo muda. É que a política tem de lidar com a realidade. E o enviesamento ideológico generalizado do ensino da economia dá credibilidade a estudos com pouca ou nenhuma aplicação real.

O defesa da taxa social única tem características de pensamento mágico. Para além da dificuldade em colmatar a receita perdida com um eventual corte num contexto orçamental dramático (esquecendo assim o contexto em que tal medida seria aplicada), trata-se essencialmente de dar liquidez ao sector empresarial. Que, assim, é suposto ser mais competitivo nas exportações - através de uma redução dos custos com o trabalho.

Ora, era importante perceber se os custos com o trabalho são uma parte relevante da falta de competitividade portuguesa. Não conheço dados que o sustentem e custos salariais elevados não me parece ser um problema premente em Portugal. Para além de que competir via baixos custos salariais é uma estratégia, como dizer..., parva (por ser impossível ganhar essa batalha, felizmente, aliás). Mas fundamentalmente, nada garante que a descida da taxa social única não seja apenas um cheque em branco dado pelos contribuintes às empresas do país. Até podemos acreditar que as empresas façam a coisa certa e produzam e exportem mais e contratem mais pessoas, mas não creio que estejamos em altura de apostar recursos dolorosamente escassos em wishful thinking.

17 May 2011

Sabedoria

Vem no Kierkegaard: casa ou não te cases, vais arrepender-te; ri-te ou chora com a estupidez do mundo, vais arrepender-te; confia numa rapariga ou não confies nela, vais arrepender-te; mata-te ou não te mates, vais arrepender-te. «A isto se resume, cavalheiros, a sabedoria».
Pedro Mexia, Lei Seca

Verdade. A partir do momento em que incorporas esta sabedoria na tua vida tens mais condições para ser feliz.

Tahrir



Vale muito a pena este livro: Tahrir - Os Dias da Revolução, relato no local escrito pela Alexandra Lucas Coelho. Vivi aqueles dias, com o simplismo de quem vê de fora e sabe quase nada sobre o Egipto, emocionado com o que se passava. Os posts e fotos que a Alexandra ia colocando no facebook contribuíram muito para isso, porque mostravam a verdadeira força daquela revolução: estava a ser feita por pessoas comuns, plenas de coragem, sem uma agenda reivindicativa que não passasse em exclusivo por reclamar o direito à dignidade, outra forma de dizer liberdade.

Incerteza

"One can see how difficult it is to get policy right when the forces are so strong and conflicting. The risk of a policy error must surely be higher under these circumstances. On Thursday of last week we discussed how from our recent client meetings the deflationists were starting to be heard more than in recent months. Overall there are still more worried about inflation but the fact that one can build a rational argument for both outcomes shows the delicate nature of this particular cycle."

Lido hoje numa nota de mercados sobre inflação, mas com aplicações mais vastas. É pena que assumir a incerteza tenha custos políticos tão elevados.

10 May 2011

5 de Junho

Sócrates, Sócrates, Sócrates. Aparentemente a nossa democracia evoluiu para um sistema em que existe apenas uma pessoa. Que é responsável por tudo. Ao ponto de existir quem sugira que todos os problemas do país se resolveriam com o seu afastamento. Ou ao ponto de termos partidos políticos que se recusam a dialogar com o PS, caso este não escolha outro líder (a falta de cultura democrática assim demonstrada já fez correr muita, e boa, tinta).

As eleições têm a ver com responsabilização política. Quem deteve um determinado cargo deve ser responsabilizado nas urnas pelas opções que tomou e pelo fracasso ou sucesso dessas opções. Mas há mais, claro que há mais. Convém que exista uma visão para o que aí vem. Numa altura em que as escolhas políticas estarão necessariamente condicionadas ao Memorando de Entendimento assinado com a CE/FMI/BCE, parece ser quase indiferente quem estará no governo nos próximos anos. Nada mais errado. A intervenção externa cria condições para que parte significativa do Estado Social que temos actualmente seja desmantelado. Há tempos escrevi aqui que reformar o Estado Social - garantindo que seja mais eficiente e mais focado no que é fundamental - era o melhor que podíamos fazer para garantir que este não acabaria.

O acesso universal a educação e saúde de qualidade e mecanismos de protecção que respondam, na medida do possível, a situações de miséria, são parte integrante do país em que quero viver.

O cumprimento das metas traçadas no Memorando de Entendimento, essenciais para sanear as nossas finanças públicas é, assim, tão importante como o país que queremos ser depois de efectuadas as reformas nele contidas. Pelo menos nesse aspecto, o voto de 5 de Junho é tudo menos indiferente.