21 Feb 2012

Lema por estes dias

2012: o mundo não sei, mas eu vou-me acabar*

*lido hoje numa t-shirt do bloco "corre atrás"

15 Feb 2012

Together we stand

O destino de um país na Europa é o destino de todos. Bem sei que esta é uma noção fora do alcance do nosso actual elenco governativo, mais interessados em passar por alunos esforçados (muito arrependidos das supostas tropelias) e obter a aprovação de quem consideram moralmente superior. Um comportamento consistente com o de um governo democraticamente eleito por uma nação soberana deve ser mais uma vítima do contexto de emergência, suponho.

Confesso que já ficava contente que entendessem de uma vez por todas que, insistindo neste caminho, já somos a Grécia. E que esse destino é uma questão de meses. Que parassem de proclamar, com um ar feliz, que os gregos estão muito pior do que nós. Não é pedir assim tanto, pois não?

13 Feb 2012

Abismo amanhã

O parlamento grego aprovou ontem mais medidas de austeridade, condição imposta pelas instituições internacionais para desbloquear mais um pacote de ajuda. Quase dois anos depois do 1º pacote de ajuda à Grécia, temos uma economia em colapso, um clima de contestação social cada vez mais agressivo e uma dinâmica de dívida que não tem solução à vista.

Nunca é demais repetir que a crise de dívida soberana europeia é uma consequência directa da crise financeira global de 2008. Principalmente porque a resposta europeia tem sido errada desde o início exactamente devido à incapacidade de identificar as verdadeiras causas. A facilidade com que se identificou a dívida pública como única culpada é, essencialmente, uma escolha ideológica, carecendo de racionalidade económica e levando a um agravar cada vez maior do problema. O recente pacto fiscal é apenas a última manifestação dessa irracionalidade.

A parede está mesmo aí à frente, mesmo com as medidas extraordinárias do BCE. A realidade tende a ser pouco conivente com devaneios ideológicos e o óbvio desprezo demonstrado pelos mecanismos de decisão democráticos por parte das instituições europeias só agrava a situação. Repetindo-me, só a visão do abismo pode fazer a política europeia inverter este rumo suicida. É esperar que não seja tarde demais.

10 Feb 2012

"Conversas privadas"

Considerar a hipótese de o nosso ministro das finanças não saber que a sua conversa "privada" com Schaüble tinha uma probabilidade elevadíssima de ser escutada/gravada é passar-lhe um atestado de incompetência que não me parece razoável. Ou seja, acho que foi feita com o intuito de ser gravada e divulgada. O que, aliás, faz sentido quando consideramos aquilo que parece ser a estratégia do governo. Gaspar insiste em manter a fachada de que o governo vai cumprir na íntegra o memorando da troika porque o quer fazer e não porque a isso é obrigado. No entanto, é claro que 1) a probabilidade de Portugal conseguir voltar aos mercados em 2013 é próxima de zero; e 2) o impacto, em termos económicos, de ir mais longe que a troika vai impedir de forma definitiva que os objectivos orçamentais delineados sejam cumpridos.

Ter uma "conversa privada" ouvida por todos é uma boa forma de poder continuar a dizer uma coisa, enquanto convence os mercados de que seremos salvos se (quando) correr mal. Não é uma má jogada, não senhor. O facto de ter exposto Portugal à humilhação de agradecermos muito a ajuda dos senhores e de ainda ter levado com o ar de enfado de Schaüble, é apenas um pormenor para o nosso ministro, certamente.

9 Feb 2012

O tema


Somos a Grécia, somos

A tragédia grega - impossível fugir aos lugares-comuns - podia, ainda assim, ter uma vantagem para Portugal. Mostrar-nos que o caminho imposto pela troika se esquece de manter o paciente vivo enquanto lhe administra a suposta terapia que o irá curar.

Uma economia a entrar no 5º ano de recessão, a taxa de desemprego que duplicou para mais de 20% entre Novembro de 2010 e Novembro de 2011, receitas fiscais que colapsam apesar do aumento de impostos. Há diferenças grandes entre a economia grega e portuguesa? Sim. Mas a terapia é a mesma. E os efeitos, mesmo sendo menores, impedirão que consigamos reduzir o nosso nível de endividamento sobre o PIB. Que deveria ser o nosso objectivo final.

Entretanto, o nosso governo não só ignora o exemplo grego, como insiste em alardear que pretende ir além da troika. Há qualquer coisa de infantil nesta vontade cega de agradar, de pedir ainda mais castigo por um suposto mau comportamento anterior. O bom senso necessário para olhar em volta e perceber que a realidade indicia de forma clara que esta política está destinada a ser um desastre desapareceu em combate. Freud explica, provavelmente.

Vão caindo as máscaras

"Não se pode fazer política com coisas tão sérias", terá dito Miguel Relvas.

Isto podia ser apenas populismo. Uma tentativa de capitalizar, de forma irresponsável, no ressentimento do povo face aos "políticos", essa classe responsável por todos os nossos males. Mas é pior. Acho mesmo que um ministro do nosso governo acredita de facto que as "coisas sérias" devem estar fora da política, do processo democrático de decisão em que ainda vivemos. Ainda.

Isto podia ser um tweet

O twitter quase acabou com este blog. Tenho pouca coisa a dizer que exceda os 140 caracteres. Ainda assim, tenho saudades disto.