22 Sept 2011

Desesperança

Sem respostas para além das de circunstância - o euro é vital para todos os europeus, não deixaremos cair um dos nossos membros - os líderes europeus enfrentam agora o que andaram a adiar nos últimos dois anos.

É penoso ver a Grécia anunciar novas medidas de austeridade semana após semana, cada vez mais contraproducentes, cruéis e irrealizáveis. Medidas impossíveis de implementar, seja quem for que esteja à frente da democracia grega. Todos sabemos isto.

A nova recessão que se desenha no horizonte faz com que não tenhamos o tempo necessário para criar os mecanismos de defesa da zona euro (os tais que descobrimos que faltavam com esta crise). Provavelmente, apenas nos restam medidas de emergência, plenas de incerteza, e todos os custos sociais, políticos e económicos que daí decorrerão.

É esta desesperança que se sente nas tais, cada vez mais frequentes (e isso também é significativo), declarações de circunstância.

21 Sept 2011

Vergonha

Cavaco, que fala do sorriso das vacas e não de um dos maiores escândalos da política portuguesa. Passos que coloca, em público e explicitamente, o futuro do país dependente de um acontecimento que todos sabemos que vai acontecer (incumprimento da Grécia).

Um governo. Um presidente. Uma merda.

16 Sept 2011

Nota mental

Nunca subestimes o poder de um vício. Mas também não te esqueças que podes ser (e já foste) feliz não lhe cedendo.

14 Sept 2011

Os sem-noção

Se alguma coisa puder ser explicada por estupidez, não procures outra explicação. Esta frase, que ouvi há muitos anos, tem uma actualidade particular quando se olha para os vários governos da Europa, a tentarem lidar com uma crise que, para ser sincero, nos ultrapassa a todos.

Mas, no fundo, a explicação da crise europeia é simples. Chama-se falta de confiança. Mesmo na ausência dos mecanismos necessários para enfrentar uma crise numa união monetária, creio que bastaria que os mercados (os investidores) acreditassem que os diversos membros da Zona Euro estariam inequivocamente na disposição de fazer o que fosse necessário para ajudar qualquer país membro que enfrentasse dificuldades conjunturais (como Portugal), ou mesmo estruturais (como a Grécia).

O que se passou, e continua a passar, foi exactamente o contrário. Se alguém se der ao trabalho de recolher as diversas declarações dos n responsáveis políticos desde o início da crise de dívida soberana, o que vai encontrar são acima de tudo recriminações e hesitações, numa confrangedora falta de capacidade de entender o ideal de construção europeia e escapar à mera gestão dos respectivos calendários eleitorais. E, já agora, de conceber e explicar os custos incalculáveis do fim da moeda única. 

Aparentemente sem noção dos riscos que estão presentes e de como se torna cada vez mais difícil recuperar uma confiança que se andou a destruir no último ano e meio, a atitude da Europa tem sido, como dizer... Isso, estúpida. 

Para a Mê

Há cinco anos atrás ainda não te conhecia, Mê. Daqui a umas horas, quando amanhã já tiver começado, faz então cinco anos que nasceste. De olhos pretos, enormes, abertos para o mundo.

Que a vida te seja leve, filha, escrevi aqui nesse dia. Hoje quero acrescentar: que te saibas manter assim, como és. Feliz, curiosa, determinada, justa, preocupada com os outros, sem medo de fazer perguntas. Amo-te.

13 Sept 2011

Sonsos ou pior

Começam a surgir as expectáveis declarações, por parte de membros do governo, da dimensão da crise internacional e do impacto negativo que esta pode ter no esforço de consolidação das contas públicas portuguesas.

Toda a campanha do psd (e cds) para as legislativas foi construída com base numa única narrativa. Os problemas de Portugal eram da exclusiva responsabilidade de Sócrates e (ainda assim, em menor escala, dada a dimensão do ódio personalizado) do ps.

Qualquer pessoa minimamente informada e que não estivesse cega por fanatismo sabia que não é assim. Claro que existe responsabilidade do governo anterior em não ter sido capaz de fazer um maior controlo sobre as contas públicas. Mas a dinâmica iniciada com a crise financeira global de 2008, criando uma recessão profunda que só não se transformou num episódio de depressão económica através da substituição do investimento e consumo privado (que desapareceu) por um aumento dos gastos públicos, reclamaria sempre vítimas. É natural que essas vítimas fossem os estados mais frágeis (porque mais endividados ou com uma estrutura de gastos públicos mais rígida), como a Grécia ou Portugal.

Deitar abaixo um governo e ganhar eleições é mais fácil do que governar um país. A situação actual torna ainda mais fáceis as duas primeiras e mais difícil a última. Quando chega a altura de lidar com a realidade, é necessário mudar o discurso e admitir finalmente que consolidarmos as contas públicas é condição necessária, mas está longe de ser condição suficiente para não entrarmos em incumprimento. Acabou, assim, o tempo da sonsice e de toda a desonestidade intelectual que esta acarretou.

Claro que há uma hipótese alternativa. A de estarmos a ser governados por pessoas que só agora entenderam uma conjuntura internacional que era óbvia. Para bem de todos nós, é melhor pensarmos que são mais sonsos que estúpidos.

Quanto ao mundo, não sei

Relvas dizia hoje, na TSF, que o mundo olha para Portugal de maneira diferente desde há 2 meses. Quanto ao mundo, não sei, mas eu olho, sim. Com a tristeza profunda de saber que, corra bem ou mal, seremos um país pior nos próximos anos.

Da complacência

A Europa - o projecto de construção de uma união europeia - faz parte das nossas vidas. Mesmo os nascidos na década de 60, passaram já a maior parte da sua vida inseridos neste projecto. Ainda mais para as populações dos países fundadores da (então) CEE.

Sabemos que a habituação gera complacência. Os perus, alimentados todos os dias até chegar o Natal, ficam certamente surpreendidos no dia em que a mesma mão que lhes trazia a comida se apresenta agora com uma faca. A complacência gera riscos, quando o facto de não conseguirmos imaginar que podia ser de outra maneira, nos faz deixar de dar valor ao que temos actualmente. Quando apenas vemos os custos que determinada situação traz, sem olharmos sequer uma vez para todos os benefícios - os tais que damos por adquiridos.

Parece-me impossível, num debate racional, defender que uma dissolução da zona euro, e o enorme passo atrás que significaria para a integração europeia, seja a melhor solução. Já escrevi aqui que a "solução" encontrada na cimeira europeia de final de Julho poderia, na melhor das hipóteses, comprar tempo à União Europeia para iniciar as reformas, no seu desenho institucional, que nos protegessem a todos desta e de futuras crises económicas e financeiras. A melhor das hipóteses, como seria de esperar, não se concretizou. Nem uma discussão profunda do que é preciso mudar foi iniciada, nem os mercados financeiros - também assustados por uma forte desaceleração sentida no crescimento económico global - têm tempo para nos dar.

Quando chegar o momento em que não é possível adiar mais os problemas, teremos de fazer uma escolha, se calhar das mais importantes em que participaremos na nossa vida. Queremos estar juntos, mais fortes, mais prósperos, em paz. Ou não.

Esse momento, que parece estar cada dia mais próximo, vai exigir líderes fortes. Ou, se calhar, apenas pessoas que entendem o quanto todos temos a perder quando deixamos os nossos parceiros cair.

11 Sept 2011

Nós e os outros

Os gregos não prestam, toda a gente sabe isso. Era óbvio que isto ia acontecer. Ajudar a Grécia é apenas deitar dinheiro à rua, eles não querem trabalhar.

Tudo frases que ouvi, na última semana, a diferentes pessoas em Portugal. Tudo pessoas supostamente informadas que têm o dever de não ceder a preconceitos, que não passam disso mesmo, formas simplistas e, por isso, estúpidas de ver o mundo. Claro que é preciosa a ajuda da irresponsabilidade de tantos responsáveis políticos europeus que insistem em ver a União Europeia como "nós, os virtuosos" e os "outros, os malandros".

Os gregos. Os pretos. Os ciganos. Os judeus. Os portugueses. Os alemães. Como é que estamos ainda aqui, nesta concepção de que um povo, um país, tem características universais que tornam o seu destino, cedo ou tarde, imutável? Se me preocupam as consequências sociais e económicas de um potencial desmembramento da Zona Euro, aterroriza-me que, tantos séculos de atrocidades depois, ainda aceitemos como explicação para o que quer que seja o abjecto "está-lhes na massa do sangue".