27 Apr 2004

Reflexões sem tempo


É o título de um texto que escrevi e redescobri agora. Foi escrito por ocasião do 25 de Abril de 1995 (há 9 longos anos portanto) e publicado num jornal universitário bastante sui generis, intitulado Nova Opinião.

Trancrevo-o aqui pela ligação feita entre evolução e revolução, mais actual agora do que então. E porque, perdoando alguma da exaltação, da má escrita e dos pormenores próprios da época, me revejo no texto que escrevi há 9 anos.

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Reflexões sem tempo

Revolução: transformação, mudança profunda, progresso intensivo segundo um dos muitos dicionários da língua portuguesa. Odiada por muitos, amada por poucos, acima de tudo, não deixa ninguém indiferente e nada incólume.
Foi e continuará a ser a única maneira de mudar, alterar, transformar e, muitas das vezes acabar, arrasar, destruir, tudo o que oprime o homem e a liberdade. Dir-me-ão que tudo isto envolve sangue, mortes e injustiças e que muitas vezes as revoluções tiram mais do que dão liberdade, a estabilidade económica e os climas de confiança e tudo isso. Tudo isso me lembra uma frase inicial de um discurso que li em quaquer lado: “A revolução não é um estado de coisas permanente e não podemos permitir-lhe que assim queira continuar. A corrente da revolução desencadeada deve ser conduzida pelo canal da evoluçao.” Politicamente correcta, não é? Foi dita a 6 de Julho de 1933 por Adolfo Hitler a filas de homens todos perfilados e impecavelmente fardados. Ficariam conhecidos na generalidade por NAZIS. E foi o que se viu.
Que dizer do espancamento de pessoas metódica e eficazmente, sejam estudantes ou operários, porque estão a exercer o seu direito constitucionalmente garantido de manifestação? Que dizer de um SIS que sem qualquer tipo de controlo, investiga dirigentes associativos e sindicais? Que dizer das pensões dadas a ex-PIDE’s (leia-se assassinos e torturadores) por valorosos serviços prestados à nação? Que dizer de uma lei de imprensa (recentemente aprovada na A.R.) cujo único propósito é defender os podres poderes estabelecidos? Que dizer da libertação de bombistas assassinos logo após a “normalização democrática”? Que dizer da fome e miséria que cada vez mais alastram nas ruas das nossas cidades?
Para mim, todas as estruturas da velha senhora continuam a existir ou estão em claro processo de branqueamento e reabilitação, embora com nomes diferentes. E isto, enquanto nós em democracia vamos dando maiorias absolutas a quem demonstra que nada mais sente do que um profundo desprezo por quem lhe deu esse poder. O que faz falta, meus amigos, é uma verdadeira revolução. De mentalidades.
Almada Negreiros disse uma vez: “Um povo perfeito tem todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades!”. Olhando para o estado das coisas, vejo-me obrigado a concordar. Somos uns boçais.
Mas e porque ainda há quem grite “revoltem-se, foda-se!” decidi não desistir. Nunca desistir.

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