4 May 2004

Iraque


Não me é fácil escrever sobre a ocupação americana do Iraque. A queda de uma ditador como Saddam Hussein é, invariavelmente, um motivo de alegria. Mas (cá vem a fatídica palavra...) toda a história desta invasão foi mal contada desde o início. Os episódios da "demonstração" na ONU da existência de WMD (com uma fantástica apresentação de powerpoint), a cimeira dos Açores em que se jurava a pés juntos a existência de provas fortes dessas mesmas WMD, são hoje episódios anedóticos que se manterão vivos durante muito tempo. Se existiu mentira nas razões que implicaram a invasão de um país, a invasão em si também não parece estar a correr propriamente bem. Os EUA são cada vez mais vistos como país invasor e não como libertador. Os acontecimentos de Falujah e o recente escândalo da tortura de iraquianos às mão de tropas da coligação só vêm dar uma mão a quem apoia a visão de esta operação estar a ser conduzida contra os iraquianos e não por eles.



Tudo isto me preocupa. Porque sei bem onde está o "meu" lado - o lado das democracias ocidentais. Quando nos encontramos numa situação de elevadíssima tensão civilizacional, é muito mau perdermos a razão. E é exactamente isso que a desastrada invasão do Iraque (e já agora o apoio incondicional dos EUA às políticas de Ariel Sharon face à Palestina) pode acarretar.

Entendo que é necessário (diria mesmo vital) lutar contra o terrorismo. Existe uma facção de extremismo islâmico com a qual não poderemos conversar, não se conversa com quem tem como único objectivo o extermínio da nossa civilização. Mas ainda ninguém me conseguiu explicar porque é que invadir o Iraque, ainda por cima com razões que se vieram a provar falsas, vai ajudar nesta luta.

Actualização: grande tira do Bartoon aqui.